quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A Batalha de Waterloo (Junho de 2010) - Reportagem Fotográfica (3)

Neste "post" vou contar-vos uma história verdadeira, que sucedeu com um dos nossos soldados que participou na deslocação à Bélgica.

História do Soldado Mário
(Cabo de Artilharia)

 
No dia seguinte à chegada das tropas Portuguesas e à montagem respectivo acampamento, ainda de madrugada, o soldado Mário comenta com o camarada que partilha a sua tenda:
-Devemos ser só uma mão-cheia de tropas aqui neste acampamento, pois ontem à noite só havia meia dúzia de tendas montadas.
Todavia, mal saí da sua tenda para apreciar o ar matinal, o nosso soldado Mário fica logo de boca aberta, espantado, e diz para o seu camarada:
-Anda cá depressa ver isto! Há aqui tendas até perder de vista!
E com isto, o soldado Mário começou logo de manhã a percorrer o acampamento, para ver as tropas que por lá havia.

Passado pouco tempo, o nosso soldado depara-se com um grupo de tendas, onde havia uma unidade de Highlanders. E fica logo espantado a olhar para eles.
-Olhem lá para isto, disse ele com os seus botões, até tipos de saias apareceram por aqui.

E claro que, enquanto ia passeando pelo acampamento, o nosso soldado Mário foi aproveitando para tirar fotografias a tudo o que ia vendo.

Até que, cansado de tanto caminhar, voltou ao acampamento Português. E mal lá chegou, colocou um pé em cima de um banco e perguntou:
-Então quando é que os dorminhocos dos cozinheiros preparam o pequeno-almoço? Eles não sabem que as tropas já estão cheias de fome?

E como não houvesse ninguém disponível para tratar do pequeno-almoço do soldado Mário, ele resolveu pegar no seu canivete e tirar algumas lascas de presunto, para ir acalmando a fome.

E enquanto o soldado Mário se ia distraíndo dessa maneira, os soldados Tó e António iam pensando no melhor tempero a dar à sopa.

Apesar de o soldado Mário se continuar a queixar que ninguém se preocupava em fazer o seu pequeno-almoço, os soldados Carlos e Paulo desde madrugada que estavam a limpar os seus mosquetes, mesmo de barriga vazia.

A certa altura, o soldado Mário resolveu ajudar os seus camaradas de infantaria, oferecendo-se para segurar num dos mosquetes, enquanto conversava com os soldados Vitó e Armindo.
Pensou ele, uma vez mais, com os seus botões:
-Deixam-me pôr o mosquete aqui pertinho da fogueira, para ele ficar quentinho e trabalhar melhor.
Isto é que é um soldado previdente. O que vale é que o mosquete estava descarregado...

E enquanto milhares de soldados marchavam para o campo de batalha, o nosso soldado Mário aproveitava todas as oportunidades para ir tirando umas fotos com a sua máquina digital, de última geração.

No entanto, a certa altura do Sargento Guedes não gostou que o soldado Mário andasse tão distraído e resolveu fazer uma participação ao Comandante, dizendo que se calhar já estava na altura de o soldado Mário receber um "prémio".
O que vale é que o Comandante, com a sua habitual bonomia e compreensão, entendeu que a situação não era muito grave e que não havia razão para começar a distribuir "prémios".

E assim terminou esta interessante história do nosso valente soldado Mário.

Pedro Casimiro

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fac-simile e Tradução da carta do Brigadeiro William Cox, de 11 de Abril de 1810

Aqui fica o fac-simile e a tradução da carta de William Cox, à data Governador Militar da Fortaleza de Almeida, dirigida a William Carr Beresford, na qualidade de Comandante-em-Chefe do Exército Português.
O original desta carta encontra-se na posse do Município de Almeida
(Centro de Estudos de Arquitectura Militar)





Tradução:

Almeida, 11 de Abril de 1810

Meu caro Senhor

Recebi sua carta do dia 7.

Echevarría informou-me que esperava uma resposta pelo Correio por volta 
dos dias 18 ou 20 deste mês e que será imediatamente reenviada para
aqui. Em seguida, irei pessoalmente falar com ele para expor mais 
em pormenor sobre o que você propõe. Posteriormente 
transmitir-lhe-ei o resultado desta conversa.
Prestaram-me contas nos últimos dias de Salamanca, Zamora e 
Ledesma e toda a gente confirmou a chegada de várias peças
de artilharia, algumas delas de grande calibre e uma grande quantidade 
de munição a Salamanca e que se esperam muitas mais, vindas 
de Valladolid e Burgos. Tampouco era esperado o reforço de tropas
que ultimamente têm chegado, sendo quase certo que sejam 
parte da Guarda Imperial que chegaram a Bayonne e vieram de volta.
A maior parte da Divisão de Kellerman, que consiste no conjunto 
de cerca de 5000 ou 6000 homens, estão a descer para Peñaranda 
e Alba sob o comando de Ney. Parte da Divisão sob suas ordens 
imediatas, constituída por cerca de 9.000 homens, recentemente 
marchou de Salamanca em direcção a Alba.
Os destacamentos que ocupam San Mañoz, Tamames, Bejar
e Baños (os últimos redutos) ultimamente têm sido reforçados.
A Divisão Loison com cerca de 7000 homens ocupa Ledesma, 
S. Felices, Bitigudiño, Yecla, e as redondezas. Loison geralmente
está em Ledesma, mas chegou a Bitigudiño no dia 6 (ontem) 
segundo me disseram em San Felices Foi-me relatado que nestes
dois ou três últimos dias, Kellerman foi visto em Francia. As tropas
francesas, em particular a Divisão Loison que é composta quase 
totalmente de recrutas, estão muito doentes. 1500 homens desta
Divisão, de momento talvez mais, têm uma espécie de mal da 
coceira e estou certo que muitos já morreram. 

Tenho a honra de ser, meu caro senhor
Seu mais Fiel e Obediente Servo
William Cox

Eugénia Guedes

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

A Batalha de Waterloo (Junho de 2010) - Reportagem Fotográfica (2)

Continuando a saga da deslocação das tropas portuguesas até à Belgica, aqui podemos ver dois soldados de Lisboa e arredores, à espera de transporte. Ouvi dizer que o Alves chegou a perguntar se era possível saltar de pára-quédas sobre o campo de batalha, mas parece que as autorizações não chegaram a tempo.

Já dentro do avião, podemos ver o soldado Guto disfarçado de agente secreto, a controlar as "voltas" das hospedeiras de bordo.
O Armindo, lá atrás, ainda não consegue disfarçar a emoção... 

Chegados ao aeroporto de Charleroi, todos pudemos constatar que, ao contrário do que nos tinham dito, até cabiam mais do que 5 pessoas na sala de espera.
  

Depois de sairmos do aeroporto, tivemos de apanhar cerca de 10 comboios para conseguirmos chegar PERTO do local do destino. 

E durante as viagens de comboio, o soldado Hugo foi aproveitando para ver as vistas...
Aproveito a oportunidade para mandar um grande abraço para o Hugo, desejando uma recuperação rápida e completa da sua saúde.

E não é que a certa altura aparece um grande monte no horizonte!
O nosso destino estava à vista!

Mas, é claro, só faltava andar cerca de 20 Km com as malas às costas para lá conseguir chegar.
O que valeu foi que a policia Belga, que fazia o controlo dos acessos, nos deixou fazer algum corta-mato.
E para que cerca de 20 soldados pudessem fazer uma viagem confortável de avião foi preciso que dois valentes soldados se tivessem voluntariado para fazer o transporte de todo o equipamento logístico necessário ao acampamento por via terrestre, ao longo de milhares de quilómetros e por vários países.
Devemos todos um agradecimento muito especial aos soldados Tó Soares e António Rico

Descansar? Nada disso!
Toca a montar as tendas, organizar o acampamento e fazer o jantar!
Afinal, a vida de soldado do séc. XIX ainda tem que se lhe diga...

E foi assim que se realizou o nosso primeiro jantar: ao ar livre e à luz das velas e da fogueira.
Os nossos três cozinheiros (Tó, Vitó e Sérgio) fizeram um trabalho excelente ao longo de toda a nossa permanência na Bélgica.


O descanso dos guerreiros! 
Nada como um cházinho quente (acho que era de camomila...) para acalmar e chamar o sono, depois de um dia esgotante para as tropas.

Pedro Casimiro

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Pavilhão Chinês / Chapéu Chinês - 3

Em França há várias referências sobre bandas de música militares, no qual o chapéu-chinês, foi um dos instrumentos utilizados pelos regimentos de granadeiros a partir de 1806, contudo já em 1805, que o 88 º Regimento de Infantaria de Linha o utilizava.
 Após um período de alguma confusão sobre a constituição das bandas militares e pela reorganização da Infantaria operada pelo Decreto de 18 de Fevereiro de 1808, este instrumento foi institucionalizado nos regimentos de Infantaria Ligeira e de Linha. Curiosamente apareciam agregados a este instrumento, músicos africanos, que se explica pela presença do exército Napoleónico no Egipto (figura 8). 

Fig. 8 - Tambor do 17.º Regimento de Infantaria Ligeira, 1807
Chapéu chinês do 15.º Regimento de Infantaria Ligeira, 1807
(ambos regimentos Franceses, figura Napoleon Org.)


Fig. 9 - Museu Militar do Buçaco - Regimento de Infantaria nº 16.



Existiram em Portugal, vários destes instrumentos musicais, sobrevivendo, apenas um no Museu do Buçaco (FIG 9) e outro no Regimento de Infantaria de Viseu (FIG.10) sendo este utilizado, ainda hoje, nas Comemorações das Guerras Peninsulares que se realizam anualmente no Buçaco e em Almeida, pelo Exército português. Existe outro que é uma réplica, sendo utilizado pelo Grupo de Recriação Histórica do Município de Almeida (FIG.11).

Fig. 10 - Regimento de Infantaria de Viseu nas comemorações de Almeida.



Fig. 11 - Chapéu chinês nas comemorações do Bicentenário do Combate do Côa em 24 de Julho de de 2010 (Grupo de Recriação Histórica do Município de Almeida)


Presentemente já praticamente não se utilizam estes instrumentos genuínos, a não ser por algumas bandas Alemãs e de alguns Países da América do Sul numa versão actualizada (FIG. 12)



Fig. 12 - Banda actual com chapéu chinês (versão germânica)

(Fim)

Joaquim Guedes


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Pavilhão Chinês / Chapéu Chinês - 2

Pelos finais do século XVIII, este instrumento, foi introduzido nas Ilhas Britânicas nomeadamente na “Royal Artillery Band” e em 1785 a banda militar de “Coldstream Guards” adquiriu dois tamborins e um Pavilhão Chinês. Espalhando-se assim rapidamente pela Polónia, Rússia, França, Inglaterra foi seguido por outras nações entre quais Portugal com exemplares no Museu Militar do Buçaco, Regimento de Infantaria de Viseu e Grupo de Recriação Histórica do Município de Almeida (GRHMA).

FIG 4 - Vários instrumentos musicais utilizados no Séc.XVIII, distinguindo-se o  Chapéu Chinês
(do livro Percussion Instruments and History, de James Blades)

FIG 5 -Aguarela do Museu “Landesmuseum Ferdinanndeum” da Banda de Música de Innsbruck,  Áustria 1823     


ALGUMAS REFERÊNCIAS DO CHAPÉU CHINÊS NA GUERRA PENINSULAR


      Na guerra Peninsular há algumas referências sobre exércitos confrontantes, relativamente ao Pavilhão Chinês ou “Jingling Johnnie” como dizem os Britânicos. Além do que já foi referido no parágrafo anterior, em que bandas militares Britânicas, tinham adquirido este instrumento musical no final do Século XVIII, no livro “French Napoleonic Infantary Tactics 1792-1815 de Paddy Griffith, cita que em 4 de Maio de 1811, durante a batalha de Fuentes d`Onoro, os oficiais Britânicos observaram bandas de música Francesas acompanhadas de Chapéus Chineses a tocarem em pleno campo aberto entre os exércitos que combatiam.
 Na Batalha de Salamanca a 22 de Julho de 1812 durante os confrontos, o 88th Regimento de Infantaria de Linha (Regimento Irlandês do Exército Britânico) * capturou um chapéu Chinês às tropas Napoleónicas. Há quem afirme que este troféu provavelmente foi capturado aos Turcos pelos Austríacos, (durante as guerras entre ambos no séc. XVII) e que por sua vez foi capturado pelos Franceses, perdendo-o por fim, a favor dos Britânicos na batalha acima referida (figuras 6 e 7).

* Este é o Regimento a que pertenceu o Tenente John Beresford, ferido gravemente no Cerco à Cidade Rodrigo, tendo vindo a falecer dias depois a 28 de Janeiro de 1812 em Almeida, encontrando-se sepultado na Praça Alta desta Vila.   

FIG 6 - Aguarela anónima que encontra no Museu Nacional do Exército em Londres                                     



FIG 7 -  O Pavilhão Chinês
    (troféu capturado pelos ingleses) 

Joaquim Guedes                                                                          



  

domingo, 12 de dezembro de 2010

A Batalha de Waterloo (Junho de 2010) - Reportagem Fotográfica


Vou iniciar uma reportagem fotográfica alusiva aos momentos altos da nossa visita à Belgica, realizada no passado mês de Junho do corrente ano.
E nada mais apropriado para começar esta reportagem do que focar, precisamente, os momentos de maior emoção para alguns dos nossos camaradas.
Começando pela Carla, aqui podemos ver a emoção que sentiu ao aterrar na Bélgica.

A emoção que o Paulo sentiu também foi muito forte - até o deixou de boca aberta.

Aqui temos o Armindo e mais um fenómeno de emoção associada à boca aberta.

A emoção do Coelho foi mais contida e reservada.

No caso do Rui, a emoção necessitou de apoio manual.

Para o Sérgio, a emoção dava mais para o sentimento.

Ele mal parava de falar, ficava logo emocionado.

Até para o Miguel a emoção foi forte demais para conseguir aguentar.

Pedro Casimiro

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Pavilhão Chinês / Chapéu Chinês - 1

Inglês: Chinese Pavillon, Turkish Crescent, Bell tree ou Jingling Johnny; 
Espanhol: Chinesco; 
Alemão: Tiirkischer Halbmond ou Schellenbaum; 
Italiano: Cappelo Chinese; 
Francês: Chapeau Chinoise, Arbre à Sonnailles

O chapéu chinês é um instrumento musical de percussão de sonoridade indefinida, muito próximo da família do Sistro, de origem oriental, utilizado em certas bandas militares, tendo chegado à Europa através das guerras entre Turcos e Austríacos no Séc.XVII.

Este instrumento é composto por um suporte com cerca de 1,80 m de altura, tendo como base um cabo geralmente de madeira, encimado com vários ornamentos em latão, desde liras, meias luas (quarto crescente), pingentes, folhas estilizadas e outras simbologias orientais, seguindo-se uma tampa de metal cónico ou pavilhão com numerosas pequenas campainhas penduradas. Na extremidade superior deste estandarte algumas variantes desde esferas de lastro (para intensificar o som das campainhas), uma lira ou um crescente (meia lua), uma estrela ou uma águia entre outros motivos. Abaixo do pavilhão poderá surgir um par de meias luas ou liras, igualmente com campainhas penduradas (figuras 1 e 2). É ainda ricamente embelezado com fitas coloridas e ou crina de cavalo, pendurados nos elementos que compõem este instrumento. O músico, terá de ser alguém com uma boa robustez física, pois este estandarte poderá atingir os 10 quilos de peso

O Pavilhão Chinês é percussionado na vertical por agitação da vara, provocando a sonoridade das várias campainhas penduradas.


(Fig. 1 Foto no Museu Militar de Almeida do Chapéu Chinês pertencente ao GRHMA)                                                

(Fig. 2 Museu em Rastatt Osmanischer na Alemanha) 

EVOLUÇÃO

O antecessor do Chapéu Chinês era originalmente utilizado pelos líderes religiosos Shaman dos nativos da Ásia do Norte, no qual acreditavam, que agitando estes instrumentos, compostos por pequenos discos metálicos, afastavam os maus espíritos. Também foi utilizado na China como sinal do início das músicas cerimoniais na Dinastia de Chou (1122-255 B.C.).

Este instrumento musical, ao espalhar-se para o Oeste, foi sofrendo alterações na extremidade superior com o aparecimento do crescente Turco, símbolo de distinção.
Os “Janissários”, guerreiros temidos e respeitados, surgiram em 1326, para protegerem os seus Chefes Turcos Otomanos, (tendo-o feito durante 500 anos), foram desenvolvendo a sua apetência pela música em interacção com as artes marciais.

Com as sucessivas guerras entre os Austríacos e os Otomanos, no século XVII, este estandarte tradicional, símbolo dos mais altos dignitários, tornou-se um troféu apetecível, devido à sua associação com os “Janissários” do Império Otomano. A importância exagerada, dada aos pavilhões chineses utilizados pelos exércitos, levou à necessidade de regulamentar o uso e o número destes instrumentos, passando apenas a ser permitida da sua utilização à infantaria, vedando-se o seu uso à cavalaria.



(Fig. 3 Uma banda Mehter Otomana com representação ao centro de um pavilhão chinês)

Joaquim Guedes

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Moda Feminina no início do Séc. XIX - Estilo Império (3ª Parte)

Após a revolução, a seda foi substituída pelo algodão vindo da Inglaterra, fazendo com que a indústria da seda em Lyon, uma força motriz da economia francesa, entrasse numa grave crise. Preocupada com a situação, Napoleão fez um esforço inglório para reavivar a indústria francesa da seda, impondo direitos aduaneiros sobre as importações de Inglaterra, proibindo o uso público da musselina inglesa e emitindo uma ordem imperial em que homens e mulheres deveriam de se apresentar como anteriormente à revolução, vestidos de seda bordados a ouro ou a prata em cerimónias oficiais, no “tribunal” e nunca usar mais do que uma vez a mesma peça de vestuário em recintos públicos e oficiais, medidas essas que não foram suficientes para virar a tendência da maré.

Após sua coroação como imperador em 1804, Napoleão começou a utilizar a roupa como um meio político, revivendo o estilo do vestido extravagante da Corte da era pré-revolucionária. O vestido (de tribunal) cerimonial de seda, usado pela Imperatriz Josefina na coroação de Napoleão e representado na pintura de Jacques Louis David é um verdadeiro “show” do que é um vestido de encenação do poder do Império. O manto da Imperatriz, de veludo bordado a ouro com forro de arminho, (figura 6 e 7) simboliza o luxo e autoridade da Corte Francesa e ilustra como a ideologia da revolução, tinha sido firmemente posta de parte. Este estilo do manto real permaneceu por muito tempo, uma peça de vestuário padrão nas Cortes Europeias.


(Fig. 6)

(Fig. 7)



Durante a primeira década do século XIX, a linha de roupa da mulher não sofreu qualquer mudança dramática, apenas foi reduzido o comprimento das saias após 1810. Mais uma vez as roupas íntimas estavam de volta à demanda, o sutiã, que mais tarde se tornou o protótipo do actual sutiã, entrou em uso, assim como espartilhos macios sem reforços de barbas.
A preferência do material de vestuário mudou muito, a partir do algodão volta a seda, a exuberância da decoração e a cor voltou à moda.

Eugénia Guedes


quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Moda Feminina no início do Séc. XIX - Estilo Império (2ª Parte)

Em termos práticos para além dos xailes de caxemira também foram adaptados alguns agasalhos Ingleses, em desuso, como o “Spencer” (casaco muito curto, acima da cintura) (figura 4) e o “Redingote” (casaco comprido inspirado no modelo masculino e militar) (figura 5) que ajudou a fugir ao frio. 

(Fig. 4)

(Fig. 5)

Estas peças de vestuário tiveram uma forte influência nos uniformes militares de Napoleão, que havia adoptado este atraente e arrojado design para realçar o poder das tropas do Império.
 Em Lyon, na França, os produtos de luxo eram feitos com materiais de qualidade superior, embora ao mesmo tempo fossem produzidos em massa, na cidade escocesa de Paisley, imitações mais baratas de tecidos estampados. A moda dos xailes de “cashemere” continuou até ao segundo período do Império Francês vindo posteriormente a ser substituída pelas crinolinas. 

Eugénia Guedes

terça-feira, 30 de novembro de 2010

Moda Feminina no início do Séc. XIX - Estilo Império (1ª Parte)

Durante o caótico primeiro período da Revolução Francesa, ocorreu uma grande mudança na moda feminina. O vestido tipo “Chemise”, assim chamado por causa de sua semelhança com uma camisa interior, tornou-se a forma dominante. A sua simplicidade contrastava fortemente com os vestidos de estilo “Rococó” da época anterior. Os acessórios íntimos do século anterior, como o espartilho e as anquinhas, que tinham sido necessários para formar os trajes e o corpo das mulheres, imposto de forma exagerada pelo estilo “Rococó”, foram abandonados. As mulheres passaram a preferir usar vestidos quase transparentes de tecidos finos em algodão branco com pouca roupa íntima ou nenhuma. A “Camisa” com a sua linha de cintura elevada de corpete único e saia, delineava uma silhueta limpa e tubular, ilustrando como este vestido de uma forma gradual, misturado com o estilo neoclássico, celebrava as formas refinadas e geométricas da Antiguidade Grega e Romana (Figuras 1 e 2)

(Figura 1)

(Fig. 2)

Materiais como a musselina, a gaze e percal (algodão fino e liso) foram escolhidos pela sua simplicidade. O uso destes tecidos permitiu que a função do vestuário, ao invés de moldar o corpo, tinha apenas a única função de o cobrir. A “Camisa”, emblematicamente transmitia uma consciência estética recentemente desenvolvida de valores pós-revolucionário na França. No entanto, sendo o inverno europeu muito frio, para este material fino, tornou-se popular complementar os vestidos com xailes em caxemira em volta dos ombros (figura 3). A “cashmere” da Caxemira, na Índia, foi introduzida em França por Napoleão no regresso da sua campanha do Egipto em 1799. Devido aos padrões exóticos e atraentes de cores policromáticas dos xailes, eles tornaram-se extremamente populares como acessórios para serem usados com o vestido “chemise” simples. Eram porém muito caros e suficientemente valiosos para serem transmitidos em testamento e em listas de enxoval. Após a década de 1830, a popularidade do xaile de “cashmere” espalhou-se pelo público em geral e a partir de 1840 surgiu em França e em Inglaterra indústrias de xailes para atender à procura.

(Fig. 3)

Eugénia Guedes